A
permanência e o agravamento da crise política e econômica, que toma conta do
Brasil, parecem indicar a incapacidade das instituições republicanas que não
encontram um modo de superar o conflito de interesses que sufoca a vida
nacional, e que faz parecer que todas as atividades do país estão paralisadas e
sem rumo. A frustração presente e a incerteza no futuro somam-se à desconfiança
nas autoridades e à propaganda derrotista, gerando um pessimismo contaminador,
porém, equivocado, de que o Brasil está num beco sem saída. Não nos deixaremos
tomar pela “sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e
desencantados com cara de vinagre” (Papa Francisco – Alegria do Evangelho,
85).
Somos
todos convocados a assegurar a governabilidade que implica o funcionamento
adequado dos três poderes, distintos, mas harmônicos; recuperar o crescimento
sustentável; diminuir as desigualdades; exigir profundas transformações na
saúde e na educação; ampliar a infraestrutura, cuidar das populações mais
vulneráveis, que são as primeiras a sofrer com os desmandos e intransigências
dos que deveriam dar o exemplo. Cada protagonista terá que ceder em prol da
construção do bem comum, sem o que nada se obterá.
É preciso
garantir o aprofundamento das conquistas sociais com vistas à construção de uma
sociedade justa e igualitária. Cabe à sociedade civil exigir que os governantes
do executivo, legislativo e judiciário recusem terminantemente mecanismos
políticos que, disfarçados de solução, aprofundam a exclusão social e alimentam
a violência, entre os quais o estado penal seletivo, as tentativas de redução
da maioridade penal, a flexibilização ou revogação do Estatuto do Desarmamento
e a transferência da demarcação de terras indígenas para o Congresso Nacional.
No genuíno enfrentamento das atuais dificuldades pelas quais passa o país, não
se pode abrir espaço para medidas que, de maneira oportunista, se apresentam
como soluções fáceis para questões sabidamente graves e que exigem reflexão e
discussão mais profundas com a sociedade.
A
superação da crise passa pela recusa sistemática de toda e qualquer corrupção,
pelo incremento do desenvolvimento sustentável e pelo diálogo que resulte num
compromisso comum entre os responsáveis pela administração dos poderes do
Estado e a sociedade. O Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever
ético e moral de favorecer a busca de caminhos que recoloquem o país na
normalidade. É inadmissível alimentar a crise econômica com uma crise política
irresponsável e inconsequente.
Recorde-se
que “uma sociedade política dura no tempo quando, como uma vocação, se esforça
por satisfazer as carências comuns, estimulando o crescimento de todos os seus
membros, especialmente aqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade
ou risco. A atividade legislativa baseia-se sempre no cuidado das pessoas”
(Papa Francisco ao Congresso dos EUA). Nesse sentido, com o espírito profético
inspirado na observância do Evangelho, a CNBB reitera que o povo brasileiro, os
trabalhadores e, principalmente, os mais pobres não podem ser prejudicados em
nome de um crescimento desigual que reserva benefícios a poucos e estende a
muitos o desemprego, o empobrecimento e a exclusão.
A
construção de pontes que favoreçam o diálogo entre todos os segmentos que
legitimamente representam a sociedade é condição fundamental para a superação
dos discursos de ódio, vingança, punição e rotulação seletivas que geram um
clima de permanente animosidade e conflito entre cidadãos e grupos sociais.
Esse clima belicoso, às vezes alimentado por parte da imprensa e das redes
sociais, poderá contaminar ainda mais os corações e mentes das pessoas,
aprofundando abismos e guetos que, historicamente, maculam nossa organização
social. Ao aproximar-se o período eleitoral de 2016, é responsabilidade de
todos os atores políticos e sociais, comprometidos com a ética, a justiça e a
paz, aperfeiçoarem o ambiente democrático para que as eleições não sejam
contagiadas pelos discursos segregacionistas que ratificam preconceitos e
colocam em xeque a ampliação da cidadania em nosso país.
A
corrupção se tornou uma “praga da sociedade” e um “pecado grave que brada aos
céus” (Papa Francisco - O rosto da misericórdia, n.19). Acometendo tanto
instituições públicas, quanto da iniciativa privada, esse mal demanda uma
atitude forte e decidida de combate aos mecanismos que contribuem para sua
existência. Nesse sentido, destaca-se a atuação sem precedentes dos órgãos
públicos aos quais compete combater a corrupção. A contraposição eficaz à
corrupção e à sua impunidade exige, antes de mais nada, que o Estado cumpra com
rigor e imparcialidade a sua função de punir igualmente tanto os corruptos como
os corruptores, de acordo com os ditames da lei e as exigências de justiça.
Deus nos
dê a força e a sabedoria de seu Espírito, a fim de que vivamos nosso ideal de
construtores do bem comum, base da nova sociedade que almejamos para nós e para
as futuras gerações.
Brasília, 28 de outubro de 2015.