Papa
Francisco e o Meio Ambiente
Quando falamos de
meio ambiente, da criação, vêm ao meu pensamento as primeiras páginas da Bíblia, ao
Livro do Génesis, onde se afirma que Deus colocou o homem e a mulher na terra,
para que a cultivassem e conservassem (cf. 2, 15). E em mim surgem estas
perguntas: O que quer dizer cultivar e conservar a terra? Estamos
verdadeiramente a cultivar e a conservar a criação? Ou estamos a explorá-la e a
descuidá-la? O verbo «cultivar» faz vir à minha mente o cuidado que o
agricultor tem pela sua terra, a fim de que produza fruto e este seja
compartilhado: quanta atenção, paixão e dedicação! Cultivar e conservar a
criação é uma indicação de Deus, dada não só no início da história, mas a cada
um de nós; faz parte do seu desígnio; significa fazer com que o mundo se
desenvolva com responsabilidade, transformá-lo para que seja um jardim, um
lugar habitável para todos.(...)
Mas o «cultivar e conservar» não abrange apenas a relação entre nós e o meio ambiente, entre o homem e a criação, mas refere-se inclusive aos relacionamentos humanos.
A pessoa humana está em perigo: isto é certo, hoje a pessoa humana está em perigo, eis a urgência da ecologia humana! E o perigo é grave, porque a causa do problema não é superficial, mas profunda: não é só uma questão de economia, mas de ética e de antropologia.
(...)
O que manda hoje não é o homem, mas o dinheiro, é o dinheiro que manda! E Deus, nosso Pai, confiou a tarefa de conservar a terra não o dinheiro, mas a nós: aos homens e às mulheres; somos nós que temos esta tarefa! No entanto, homens e mulheres são sacrificados aos ídolos do lucro e do consumo: é a «cultura do descarte». Se um computador se quebra é uma tragédia, mas a pobreza, as necessidades e os dramas de numerosas pessoas acabam por ser normal. Se numa noite de inverno, aqui perto na rua Ottaviano, por exemplo, uma pessoa morre, isto não é notícia. Se em muitas regiões do mundo há crianças que não têm do que comer, isto não é notícia, parece normal. Não pode ser assim! E no entanto estas situações entram na normalidade: que algumas pessoas desabrigadas morram de frio na rua, isto não é notícia. Ao contrário, a diminuição de dez pontos na bolsa de valores de algumas cidades constitui uma tragédia. Alguém que morre não é notícia, mas se a bolsa de valores diminui dez pontos é uma tragédia! Assim as pessoas são descartadas, como se fossem lixo.
Esta cultura do descarte tornou-nos insensíveis também aos desperdícios e aos restos alimentares, que são ainda mais repreensíveis quando em todas as partes do mundo, infelizmente, muitas pessoas e famílias sofrem devido à fome e à subalimentação. Outrora, os nossos avós prestavam muita atenção a não descartar nada da comida que sobejava. O consumismo induziu-nos a habituar-nos ao supérfluo e ao esbanjamento quotidiano de alimentos, aos quais às vezes já não somos capazes de atribuir o justo valor, que vai além dos meros parâmetros económicos. Mas recordemos bem que a comida que se descarta é como se fosse roubada da mesa de quem é pobre, de quantos têm fome!
(...)
Ecologia humana e ecologia ambiental caminham juntas.
Por isso, gostaria que todos nós assumíssemos seriamente o compromisso de respeitar e conservar a criação, de prestar atenção a cada pessoa, de contrastar a cultura do desperdício e do descarte, a fim de promover uma cultura da solidariedade e do encontro.
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