quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Profetas da chuva do Piauí preveem mais um ano de estiagem




Observar os sinais da natureza através das plantas, pequenos animais e até das nuvens e ventos é uma prática muito comum entre os agricultores e agricultoras do Semiárido Brasileiro. Uma tradição passada de geração para geração e que apesar de toda a tecnologia dos dias atuais continua mais viva do que nunca. Não tão famoso quanto o evento que acontece em Quixadá no Ceará, mas tão rico em sabedoria quanto lá, o Piauí também tem realizado o Encontro dos Profetas e Profetizas da Chuva nos últimos anos, mais precisamente no município de Pedro II, cidade ao norte do Estado localizada à 210 km da capital Teresina.
Em 2018, o encontro que reúne sábios agricultores e agricultoras chegou a sua décima edição. O evento é sempre realizado na propriedade de um/a dos/as profetas, neste sentido a programação permite que o anfitrião ou anfitriã apresente aos convidados seu quintal produtivo, ou quais técnicas de produção agroecológicas ali existem. Este ano o evento ocorreu na manhã do último sábado, 13, na propriedade de dona Maria das Graças e seu Raimundo Zaca, profeta que participa do encontro dos profetas desde sua primeira edição.
Nesta edição, o evento contou com 13 profetas e 01 profetiza, que relataram seus prognósticos sobre a ocorrência das chuvas na região nos próximos cinco meses, com base nos sinais da natureza. Entre os sinais relatados pelos profetas, a experiência da primavera que acontece no mês de setembro está entre os mais populares. Mas, pequenos animais como a formiga, o camaleão e algumas plantas também são citados durante os relatos. “A camaleão apareceu estes dias para se alimentar com as pastagens que nascem com as primeiras chuvas do ano, mas desta vez ele não encontrou nada, pois por aqui até agora não choveu, o que não é bom sinal”, dizia o profeta Raimundo Zaga, agricultor experiente de 67 anos da comunidade São Braz, local onde ocorreu o encontro este ano.

Antonio Miguel, outro experiente profeta disse durante sua fala que as chuvas deste ano devem ocorrer abaixo da média na região: “O que eu vi nas experiências da primavera, foram poucas chuvas para os próximos meses”, disse seu Antonio. Opinião também defendida por outros profetas durante suas apresentações. “É preciso que preparemos a terra para o plantio de forma adaptada, não desmatando, nem queimando nossos quintais, pois com a terra protegida com uma cobertura de folhas ou outros materiais orgânicos se torna mais forte durante a estiagem”, disse o profeta e agricultor José Ferreira.
A fala e observações dos profetas deixam um clima de preocupação, pois eles costumam acertar a maioria das previsões, assim como ocorreu em edições anteriores dos encontros dos profetas. Adeodata dos Anjos, coordenadora do evento, lembra que os acertos nas previsões populares trazem uma boa autoestima aos profetas, mas ela lembra também que mais importante do que o acerto nas previsões dos profetas, é a tradição do/a agricultor/a na observação da natureza, bem como a relação de cuidado dessas pessoas com os símbolos sagrados como a chuva, a planta ou os pequenos animais. “Tirar um tempo para observar a natureza, buscar entender o que ela quer nos falar é algo sagrado que precisamos motivar as pessoas a não deixarem morrer esta tradição”, ratificou.
A décima edição do Encontro dos Profetas e Profetizas da Chuva do Piauí deixa uma preocupação no ar, pois a previsão da maioria dos profetas é de que as chuvas na região devam ocorrer abaixo da média este ano. Caso isso ocorra, significa a continuidade da grande estiagem no Semiárido. O período de chuvas na região norte do Piauí, conhecido como inverno ocorre entre janeiro e abril, algumas vezes até maio. É neste período também em que o agricultor/a prepara a terra e faz o seu plantio para buscar garantir o alimento da sua família. Este é também o tempo em que as famílias guardam a água da chuva na cisterna para utilizar no verão.
O encontro dos profetas e profetizas da chuva no Piauí tem a realização do Centro de Formação Mandacaru de Pedro II com o apoio de outras organizações que assim como o Mandacaru integram o Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido, também chamado ASA Piauí.

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